Iveco agora tem caminhões Euro 5 também na Argentina
“O mercado de caminhões no Brasil desceu a um nível tão baixo que não paga mais os custos fixos. Com esses volumes está fácil rasgar dinheiro.” O alerta é de Vilmar Fistarol, presidente da CNH Industrial, companhia que entre outras marcas de bens de capital controla a fabricante de caminhões Iveco. Após quase uma década de investimentos para se tornar uma marca “full line” no País, com fábrica em Sete Lagoas (MG) que produz amplo portfólio com cinco famílias de modelos leves, médios, semipesados e pesados, a montadora mal utiliza um quarto da capacidade instalada na unidade mineira. Como não se espera por nada muito melhor do mercado brasileiro em 2016, a única saída é tentar aumentar as exportações.
“Com o câmbio do jeito que era a R$ 1,60 por dólar não tínhamos nenhuma chance de competir no mercado internacional. Agora, com a desvalorização do real no atual estágio, podemos voltar a tentar ocupar nossa capacidade com vendas ao exterior”, afirma Fistarol. “Mas esse não é um mercado que se desenvolve do dia para noite, ainda leva algum tempo”, lembra.
Segundo Marco Borba, vice-presidente da Iveco América Latina, as exportações a partir da unidade brasileira já cresceram 400% este ano, mas como a base de comparação é muito baixa ainda não há motivo para se comemorar o gordo porcentual, que na prática significa apenas 460 unidades de janeiro a novembro somam, a maior parte embarcada para a Argentina – que compra do Brasil os leves Daily e médios Vertis, enquanto produz o resto da linha vendida no país na fábrica de Ferreyra, em Córdoba, que também recebeu investimentos em torno de US$ 250 milhões nos últimos anos e tem capacidade para fazer 15 mil caminhões/ano.
Com a mudança na Argentina da legislação de emissões, que a partir de janeiro de 2016 passa a ser equivalente à do Brasil com a adoção de motorização Euro 5 para ônibus e caminhões (leia aqui), as duas fábricas passam a produzir portfólio também equivalente. “Isso ajuda a obter ganhos de escala em tecnologia e troca de peças”, destaca Fistarol. Um desses ganhos está no aumento da produção de motores Euro 5 pela FPT, também parte do grupo CNH Industrial, tanto na unidade brasileira como na argentina. “Hoje temos na América Latina produtos com o mesmo nível de tecnologia e qualidade de qualquer lugar do mundo”, complementa Borba.
Apesar da equivalência de produtos e capacidades ociosas em ambos os lados da fronteira entre os dois maiores sócios do Mercosul, atualmente as maiores chances de exportação ficam com o Brasil. “A Argentina ainda tem um longo caminho para percorrer para se tornar competitiva, precisa resolver a questão do câmbio oficial defasado”, lembra Fistarol.
RISCO DO BAIXO VOLUME
Se o mercado brasileiro não retomar seu vigor, vai comprometer qualquer tipo de evolução de produtos no futuro. Embora reconfirme o investimento de R$ 650 milhões da Iveco no Brasil entre 2014 e 2016 (leia aqui), Fistarol lembra que o programa foi decidido em um momento que o cenário futuro parecia bem melhor do que o atual. “Não dá mais para voltar atrás, mas com os volumes atuais ninguém mais trará evoluções tecnológicas para cá, porque o mercado não paga mais por elas”, alerta Fistarol. “Com o perfil de preços praticados hoje a política é de mera sobrevivência. Vamos andar para trás se continuar assim.”
Para o executivo, de nada adianta ganhar mais participação de mercado diante do quadro atual. “Até desistimos de participar de algumas concorrências porque não queremos vender preço”, diz Fistarol. De janeiro a novembro as vendas da Iveco no Brasil já caíram quase 50%, para cerca de 4 mil caminhões emplacados, com market share em torno de 6%. “Com os investimentos que fizemos para ser um full liner não conseguimos ampliar nosso market share, mas ao menos sustentamos a rede com oferta de serviços”, pondera.
As perspectivas para 2016 não são melhores: “Devemos andar de lado. Esperamos por mercado total em torno de 75 mil a 80 mil caminhões, talvez um pouco melhor do que foi 2015”, estima Marco Borba. “Eu achava que tínhamos chegado ao fundo do posso quando o volume era de 100 mil. Ficou bem pior e é difícil imaginar que fique ainda pior do que isso.” O chefe da Iveco na América Latina também valia que o setor terá de aprender a conviver com financiamento mais caro: “Não acredito que o Finame-PSI será renovado em 2016. O governo deve subir a taxa e oferecer somente o Finame com TJPL”.
Borba lamenta a imprevisibilidade do cenário atual: “A cadeia de fornecimento nos pede previsão de seis meses, mas como vou fazer isso se nem sei ainda se vai haver financiamento ou não”, pergunta. “Isso cria um ambiente hostil aos negócios.” Ainda assim, a projeção é de que o mercado brasileiro ainda traz boas oportunidades: “Sabemos que vai reagir e é muito maior do que o atual”, finaliza.
Fonte: automotivebusiness
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